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- 9 de abr. de 2020
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Não fossem os tempos diferentes que vivemos, hoje seria dia de muita gente na rua e de tradições pascais por todo o mundo!
Na minha cidade, a quinta-feira santa é dia de farricocos, dia de visitar as igrejas, dia de lava-pés e de Ultima Ceia. É um dos meus dias favoritos da quadra pascal pela intensidade da tradição e pela imagem forte que transmitem os farricocos que andam pelas ruas nas suas vestes negras, encapuçados, descalços e a fazer soar as ruidosas e imponentes matracas.

"Na sua origem pagã, os farricocos eram um grupo de mascarados que percorria as ruas, anunciando a passagem dos condenados e relatando os seus crimes. Já «cristianizados», em tempos antigos, conforme a mentalidade de então, percorriam as ruas chamando os pecadores públicos à sua reintegração na Igreja, depois de arrependidos e perdoados. Era a forma do tempo, de entender a misericórdia para com os pecadores, aos quais tinha sido aplicada a indulgência (ou «endoença»)." (in SÃtio Oficial da Semana Santa)
À noite, milhares de pessoas costumam juntar-se nas ruas para a procissão do "Ecce Homo", habitualmente denomidada procissão dos "fogaréus", numa clara alusão às taças com pinhas a arder que os farricocos transportam. São momentos de silêncio e de introspeção que nos fazem parar para pensar nas nossas opções e decisões.
Mesmo para os não católicos, este é um dos muitos dias em que a cidade se transforma, em que recua no tempo, em que quase sentimos que temos um lugar em outro momento da História. Hoje, quer fiquemos por casa, quer vagueemos pela cidade deserta a caminho do trabalho, é mais um dia para reconsiderarmos, para deixarmos para trás as coisas menos boas, é dia de pensarmos em começar coisas novas, sejam elas pequenas transformações ou decisões com um peso um pouco maior. É dia de desligar e reiniciar, de começar de novo, guardando o que está para trás e que faz de nós o que somos hoje mas pensando no futuro com fé e esperança.