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Voltaram as aulas, mas não voltou mais nada

  • Foto do escritor: 3 dias depois
    3 dias depois
  • 15 de abr. de 2020
  • 1 min de leitura

Ontem milhares de alunos regressaram às aulas, mas não à escola. O regresso foi tímido, silencioso e sem a euforia habitual. Não houve histórias das férias para contar aos amigos. Nos corredores das escolas o silêncio faz-se ouvir como nunca. Não há correrias, gritos, brincadeiras. Não há vida. As salas estão vazias, não há dúvidas, não se passam bilhetinhos de um lado para o outro nas costas dos professores. Não se partilham canetas, borracha ou lápis. No pavilhão desportivo não se ouvem as bolas a bater no chão, ninguém grita pela sua equipa, não há apitos nem faltas, não há pontos, golos ou cestos.


Nos recreios ouve-se apenas o vento, o restolhar das folhas das árvores, o chilrear dos pássaros. Não há risos, nem saltos, nem namoricos às escondidas. Nas bibliotecas impera um silêncio maior do que o habitual. Os livros anseiam para que alguém os tire das estantes e leve as suas histórias a viajar, mas não. Nada disso acontece. Ficam apenas a ganhar pó, como que adormecidos. Não há filas para o bar e não há o cheiro enjoativo do refogado que sai da cantina logo pela manhã.


Voltaram as aulas, mas não voltou mais nada. Alunos e professores regressaram como autómatos. Não voltou a alegria, não voltou a proximidade, não voltaram as chamadas de atenção, não voltou a ida ao lugar de cada aluno para tirar dúvidas específicas. Voltaram as aulas, mas não voltou o mundo tão particular que é cada escola. Voltaram as aulas, mas não voltou a alegria de aprender e de ensinar, não voltou a sede de saber cada vez mais.

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